domingo, 20 de março de 2011

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A VETERINÁRIA

Idael Christiano de Almeida SANTA ROSA1

Conversando via rede com dois amigos refletíamos sobre os rumos que toma a Veterinária e constatávamos que cada vez mais o veterinário é menos valorizado e cada vez mais a categoria busca reproduzir modelos sem a menor reflexão sobre o que faz. Há todo um discurso de capacitação, formação e ao mesmo tempo assistimos a uma baixa de competências técnicas e humanas. Transcrevo algumas considerações que fiz num dos nossos colóquios.
Noto também o esvaziamento dos saberes e fico pesaroso por isso. Vejo um esvaziamento também da profissão. A veterinária tem se fechado em si mesmo, olhando apenas para o seu próprio umbigo. E o pior, fica olhando para o próprio umbigo, mas por ser estrábica e míope perde o centro e não consegue ver a realidade. Temos perdido o respeito por nós mesmos, temos deixado de lado uma formação abrangente e critica para nos abraçarmos a ritos medíocres. Estamos matando a semiologia e a clinica, abusando dos exames complementares sem a menos noção da patologia clinica, do diagnostico por imagem, dos testes imunológicos. Não refletimos sobre o que falamos, sobre o que engolimos, sobre o que vomitamos em cima dos outros, dos proprietários. Ouvimos o galo cantar, não sabemos onde, mas pintamos e reproduzimos o galo de raça que cantou, um lindo Brahma de penas brancas douradas e negras, patas cobertas de pena. Arrogantes, sentenciamos que o galo que cantou e não vimos era assim e se não for assim não era o galo. Deixamos de lado o conhecer e construir conhecimento para nos voltarmos para o “prescrever”, leviano prescrever sobre o que não se conhece, para quem não se conhece.
Reduzimos-nos a prescritores. Mas prescritores competentes, pois nos vestimos impecavelmente de branco. Andamos de branco para todo lado, desfilando a nossa arrogância e prepotência e esquecendo qual seria a razão do branco, mas recriminado que se limita a usá-lo a ambientes restritos e com potencial de contaminação para delimitar áreas de acesso. Estamos empobrecendo, mas não é o empobrecimento financeiro e social que me preocupa. O que me preocupa é o empobrecimento cultural. Levantamos a bandeira do técnico. Somos técnicos e tudo que não é técnico não nos interessa, é coisa menor. Sem perceber que o técnico tem que saber ler a realidade e para isso não basta à técnica é preciso se formar na sensibilidade, na compreensão de mundo, na capacidade de ver o outro. De saber que por trás do animal tem um ser humano que é o sentido da nossa ação. Sem nos darmos conta a nossa bandeira de excelência técnica está nos empobrecendo como técnicos. Está nos tornando incompetentes tecnicamente. Está nos tornando qualificados apenas para reproduzir a técnica e não para adequá-la ao que precisamos, ao que o proprietário precisa, ao que a sociedade precisa.
Vivemos num inflar de egos, com grandes fogueiras de vaidade, que não nos aquecem, apenas nos ofuscam. Vivemos sem perceber o paradoxo do nosso tempo e nossa formação, a contradição na qual nós mesmos deixamos a nossa categoria se afundar. Sem perceber vamos caindo no trabalhador touro do taylorismo. Aquele trabalhador submetido a um trabalho escravo, pois não liberta. Um trabalhar que deve apenas executar o seu trabalho sem questionar a que propósito está servindo. Quando menor for o nosso horizonte de visão melhor, melhores trabalhadores touros seremos. Logo não há necessidade de formação de qualidade, qualquer coisa serve, pois não há mais espaço para a universidade, a pluralidade de pensamentos que constrói a pratica reflexiva. Entra aqui o paradoxo: precisamos cada vez mais de uma formação mais estreita e de qualidade pior (afinal vamos apenas reproduzir o que despejam sobre nós), a nossa lógica burguesa é, porém meritocrática e diz que as benesses devem ser dadas para o mais qualificado (ainda que abra espaço para discutir qual qualificação) e cria-se a cada dia mais e mais etapas de formação. Eis o paradoxo: o "Mercado" (deus mercado tão cantado e decantado) quer o trabalhador touro taylorista, a nossa formação burguesa quer títulos. Esse paradoxo não gera um conflito insolúvel, pelo contrario, ele é uma galinha dos ovos de ouro para o Capital. Tanto que o Banco Mundial resolveu se meter na política educacional dos países periféricos, dizer no que se deve e no que não se deve investir. E a partir da premissa que a graduação não forma ninguém para o mercado de trabalho propõe uma redução do tempo dos cursos para no máximo três anos, mas que o ideal seria menos, pois a formação para o trabalho se daria na pós-graduação. Pós-graduação que não precisa ter compromisso acadêmico, tem apenas que qualificar para apertar um parafuso especifico com uma chave especifica (começamos a ver esse filme com os mestrados profissionalizantes, os MBA´s, os cursos de especialização e cada dia uma outra novidade surge).
Nesse cenário não é de se estranhar que órgãos em crise de identidade  paassem a buscar novos meios de se legitimar (veja o Exame de Qualificação Profissional do CFMV que já tem até cursinho preparatório via Internet). Conhecendo esse direcionamento e sendo capaz de somar dois mais dois fica difícil não olhar com preocupação a tal de Flexibilização curricular proposta pela LDB e que passa a ser a tônica dos processos de reforma curricular.
É incrível, mas abraçamos as panacéias com uma facilidade surpreendente. Deixar que um estudante que sequer conhece qual a extensão do curso que ele por algum motivo escolheu (muitas vezes de forma equivocada) trace o é ou não importante para a sua formação é de uma ingenuidade maquiavélica, não há liberdade na falta de verdadeira opção. O mero desejo ou achismo não gera consistência para uma decisão consciente. Estamos mais uma vez reduzindo o horizonte da categoria, estamos criando uma grande viseira.
E a técnica é a viseira que nos damos, nos travestimos de especialistas "aqueles que, segundo alguns, sabendo tudo de nada". Vangloriamos-nos disso, pois é melhor que ser generalista "aquele que sabe nada de tudo", não somos capazes sequer de refletir que esses conceitos foram alterados em nome de uma lógica que não a da vida. Generalista era o profissional que tinha condições de atuar em todas as áreas (ou na maioria delas) decentemente, sendo capaz de ser linha de frente e quando o problema ficasse por demais exarcebado, sabia a que colega recorrer. Um colega especialista, que era aquele sujeito que sabia o básico de tudo e sabia alguma coisa de uma forma especial. O especialista tinha a noção do todo. É essa visão do todo que a cada dia mais falta nos faz. A interdisciplinaridade deve a todo custo ser resgatada ou estaremos fadados a sermos técnicos medíocres, seja envergando chapelão, cinto fivelão, canivete e botina, suja de bosta de vaca e achando que quebrar a cara em rodeio universitário é o supra-sumo, seja vestido todo branco como se isso fosse um atestado de competência profissional. Ser peão não nos qualifica como veterinários e se roupa branca qualificasse açougueiros, esses seriam exímios veterinários...
É preciso abrir espaços para que os horizontes da veterinária essa profissão tão rica, tão rica que citar o bordão de "21 em 1" é reduzi-la a sua porção menor. Precisamos fomentar não só a interdisciplinaridade, mas também o multiculturalismo, a divergência, a diversidade de olhares e opiniões ou estaremos fadados a ser uma profissão sem valor e sem respeito, talvez até extinta como as profissões que o Rubem Alves enumera para falar da formação do educador. Salve o técnico com técnica apenas dentro da técnica, que reconheça o seu direito de ser o que quiser, de ser louco se assim o quiser, de ser completo, de ter cultura, de ler poesia, de escrever poesia, de fazer política. Salvemos o profissional ser humano e cidadão.
É preciso urgentemente resgatar nossa integridade, salvar nossa categoria profissional e o atual momento é o momento e não admite omissão.

(Texto adaptado, de 2004)
 1Professor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Lavras; militante da ENEV no começo da década de 90

quinta-feira, 17 de março de 2011

Carta convocatória aos centros e diretórios acadêmicos de Medicina Veterinária


Gostaríamos de convidar a todos os estudantes que compõem os CA’s e DA’s das escolas de veterinária do Brasil para participarem do CEBEV, Conselho das Entidades de Base da Veterinária, que acontecerá do dia 24 ao dia 27 de março, em Londrina.
Foi definido no último CEBEV (Belo Horizonte/MG), o caráter do evento desse ano, que será basicamente dois dias de formação relacionada ao conteúdo que será trabalhado no próximo ENEVET (Encontro Nacional dos Estudantes de Veterinária) - Maranhão (UEMA) e, posteriormente, dois dias de organização deste ENEVET.
O conteúdo a ser desenvolvido durante o encontro será focado na discussão do bem estar animal (programação completa abaixo).
Faz-se urgente a mobilização dos estudantes de veterinária do Brasil, visto as dificuldades de organização intrínsecas deste movimento. Compreender que por estarmos inseridos numa sociedade com uma lógica própria, desenvolvemos técnicas enquanto profissionais que servem a ela e por isso são questionáveis e passíveis de discussão.
Durante o encontro, garantimos aos participantes: alojamento (no local do encontro), alimentação e materiais. É necessário trazer colchão, travesseiro, prato, talher e material de higiene pessoal.
O valor da inscrição é R$ 60,00. Basta mandar um e-mail para bru_vetuel@yahoo.com.br que enviaremos a ficha de inscrição.



Contatos:
Bruna - (43) 8805-9966 / e-mail: bru_vetuel@yahoo.com.br
Giovana - (43) 9644-0056 (TIM)

Gestão 2010 do CAVET/UEL - “Fortalecendo a Formação Além da Técnica”

Abaixo, o novo cartaz do CEBEV (clique nele para ampliá-lo)


terça-feira, 8 de março de 2011

CEBEV 2011


(CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIÁ-LA)